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Repressão do governo da Nicarágua aumenta antes de retomada do diálogo


8 pessoas morreram no último final de semana, inclusive um bebê de um ano. Governo e organização civil se reunirão nesta segunda.

A repressão das forças do governo da Nicarágua contra protestos da oposição se intensificou neste fim de semana, quando 8 pessoas morreram. O aumento da repressão precede a retomada de um diálogo que visa a acabar com a violência que já deixou cerca de 200 mortos em pouco mais de dois meses.

Violentos ataques de polícia, milicianos e paramilitares contra bairros da capital Manágua e de outras cidade deixaram 8 mortos. Entre as vítimas estão um bebê de 1 ano, um adolescente de 17 e dois jovens estudantes da Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (Unan), onde dezenas de alunos estão entrincheirados.

O bebê morreu em Manágua por uma bala na cabeça, enquanto estava nos braços de seus pais, durante o ataque das forças do governo. "Espero justiça. Sei que não vai acontecer, mas a justiça de Deus chegará mais cedo ou mais tarde", declarou a mãe de Leonardo, Karina Navarrete, que também tem uma menina de 5 anos.

O casal e seus dois filhos estavam indo para a casa da avó paterna deixar o bebê porque Karina trabalha como empregada doméstica.

"Logo começaram a disparar e atingiram a cabeça do meu bebê", recorda sua mãe Karina Navarrete, falando à AFP. "Ninguém me contou. Eu os vi. Eram policiais que começaram a disparar contra nós. Eu posso confirmar diante de qualquer um que eram policiais", assegura.

Ante a comoção provocada pela morte do bebê, a polícia emitiu um comunicado negando ser responsável pela morte e a atribuiu a "delinquentes que sitiam os bairros".

Em meio a tanta dor, Karina mostrou à imprensa o atestado de óbito emitido pelo hospital que atendeu seu filho. Nas opções sobre possíveis causas da morte, uma foi marcada: suspeita de suicídio.

O corpo de seu filho foi enterrado neste domingo em um pequeno caixão branco junto a uma cruz de flores amarela. Ao redor, familiares, amigos e vizinhos gritam por justiça.

Diálogo

O governo de Daniel Ortega e uma organização da sociedade civil, a Associação Cívica pela Justiça e a Democracia, foram convocados pela Igreja Católica, mediadora do processo, para discutir nesta segunda-feira (25) a proposta de eleições antecipadas de 2021 para março de 2019.

Como parte do processo de diálogo, o país deve receber técnicos da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e, na terça-feira, funcionários do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a fim de investigar a violência.

Protestos

Os protestos começaram em 18 de abril, contra uma reforma da previdência social, mas foram ampliados para exigir justiça e a renúncia de Ortega, que acusam de estabelecer, com sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo, um governo autocrático.

"É imperativo (...) que (o governo) nos comunique oficialmente sua aceitação da proposta que apresentamos em 7 de junho", ressaltaram os bispos em um comunicado.

Ortega, um ex-guerrilheiro de 72 anos que governa pelo terceiro mandato consecutivo desde 2007, não respondeu à solicitação, mas disse estar disposto a trabalhar pela democratização do país.

As negociações foram suspensas três vezes, a última há uma semana, porque o governo não convidou organizações internacionais para verificar a situação dos direitos humanos.

Reação a relatório

O sociólogo Oscar René Vargas considerou que a repressão do último sábado foi uma reação ao relatório entregue na sexta-feira pela CIDH ao Conselho Permanente da OEA, contabilizando 212 mortos, 1.300 feridos e mais de 500 presos nos dois meses de repressão.

"Ortega acredita que pode criar uma nova correlação de forças" antes da chegada de organizações humanitárias internacionais, aponta Vargas.

O governo rejeita as acusações de uso excessivo da força contra manifestantes e de violação dos direitos humanos.

Na reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), o ministro das Relações Exteriores nicaraguense, Denis Moncada, considerou o relatório da CIDH "subjetivo, tendencioso, preconceituoso e notoriamente parcial".

Repercussão aos ataques

Na homilia de uma missa no sábado, o cardeal Leopoldo Brenes pediu ao governo e aos grupos armados legais e ilegais "que não apontem a arma para tirar a vida de um irmão".

Vários governos e organizações condenaram as ações das forças do governo Ortega.

O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, condenou as mortes e pediu o "fim imediato de todas as formas de violência e repressão".

Antes dos ataques, a Aliança Cívica pela Justiça e Democracia suspendeu a "Marcha das Flores", marcada em memória das vítimas da violência.

Com G1

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